por Joaquim Cartaxo
Há mais de oito séculos, o adágio alemão “o ar das cidades liberta” simbolizava o movimento das pessoas que deixavam o campo em busca de liberdade e cultura nas cidades. Movimento circunstanciado pelo ideário do progresso da idade moderna que surgia em contraposição às “trevas” da idade média marcada pelo feudalismo.
Liberdade e diversidade são necessidades fundamentais da cultura e circunstâncias urbanas acima de tudo. Logo, a cidade reúne as condições de supri-las; possui as condições de ser o lugar da cultura.
Dado suas condições físicas, sociais, políticas e culturais diversas que são de sua natureza, a cidade reúne pessoas diferentes em grande quantidade, proporciona encontros inesperados e oferece ao indivíduo mais e melhores oportunidades de escolher livremente o modo de ser e de pensar.
Desse modo, cultura é uma produção social e histórica de grupos humanos com poder e sem poder que se realiza em tempo, ambiente natural e tecnologia diferenciados. Por exemplo, quem decide quais as características da identidade cultural de um lugar, de uma cidade, de um estado ou de uma nação? Quem decidiu que o Brasil era o país do Carnaval e do futebol? Ceará terra da luz? Fortaleza a loura desposada do sol? Sobral, a princesa do norte e Juazeiro a terra do “Padim Ciço”? Não há racionalidade nessas “decisões”, pois são acontecimentos da prática social que é diversa.
Sublinhe-se a cidade como lugar da cultura, a política cultural como o eixo principal do seu desenvolvimento e que sem liberdade e diversidade a sustentabilidade sócio ambiental e nem econômica desse desenvolvimento é retórica. Isso contraria a tradição dos projetos de cidade, pois em sua maioria referenciam-se nos aspectos quantitativos da renda, do Produto Interno Bruto (PIB), da densidade demográfica, em detrimento da ideia de desenvolvimento relacionada à qualidade social, cultural ou intelectual da vida urbana.
Joaquim Cartaxo é arquiteto e vice-presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores do Ceará
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