por Joaquim Cartaxo
Animal
produtor de cultura é a especificidade natural do ser humano. Portanto,
adapta-se a distintos ecossistemas, molda-os com o intuito de atender demandas,
“domina a natureza”. Dominar a natureza é controverso. Se domina a natureza, o
ser humano é não-natureza? Por outro lado, se for natureza quem o domina, outro
ser humano superior?
Sobre essas questões, o geógrafo
Carlos Walter Porto Gonçalves resume: “Toda sociedade, toda cultura cria,
inventa, institui uma determinada ideia do que seja natureza. Nesse sentido, o
conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos
homens. Constitui um dos pilares através do qual os homens erguem as suas
relações sociais, sua produção material e espiritual, enfim, a sua cultura”.
A natureza não é natural, é
cultural. Cada sociedade amplia ou restringe o conceito de natureza conforme
sua visão social e histórica de mundo. Sociedades conservacionistas tendem a
estabelecer o que é natureza de modo abrangente, logo o percentual de preservação
de recursos ambientais será maior do que o percentual das sociedades não
conservacionistas, que classificam a natureza de forma restrita.
Essa dicotomia cultura-natureza
repercute sobre a ideia de sustentabilidade, definida como interdependência
entre determinada população (cultura) e seu meio ambiente (natureza) em que as
dimensões econômicas e socioambientais são consideradas indissociáveis.
Dicotomia que se expressou na
revisão do Código Florestal Brasileiro, em especial no debate sobre o lugar da
linha divisória que define a natureza a ser preservada e a não-natureza formada
pelos “pés de pau” passíveis de serem derrubados legalmente. Decidir tal lugar
é uma disputa política entre interesses econômicos e necessidades
socioambientais.
Debate similar e atual envolve o
Cocó: por onde passará a linha que definirá a não-natureza deste rio, cuja
bacia banha 2/3 de Fortaleza?
Joaquim Cartaxo é arquiteto urbanista e vice-presidente do PT Ceará
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